A energia solar depende da importação de equipamentos de alto valor agregado que absorvem parcela significativa dos investimentos na montagem do parque de geração no Brasil. Um cenário diverso do de outras fontes, como a eólica e a hídrica, cujas respectivas cadeias de valor já estão praticamente nacionalizadas, dizem os especialistas. Segundo eles, fatores externos (alta dos preços internacionais e dificuldades na logística de abastecimento por conta da pandemia e de conflitos bélicos) somados a problemas domésticos (câmbio e carga tributária) pressionam custos e encarecem a energia fornecida aos consumidores.
Embora disponha de aproximadamente 30 fabricantes, o Brasil importa parte dos módulos e inversores fotovoltaicos – que são os dois principais itens do sistema de geração de energia solar. Os módulos representam em torno de 35% do preço do sistema, enquanto os inversores custam entre 15% e 20%, segundo Rodrigo Lopes Sauaia, CEO da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). A demanda crescente e a presença no mercado brasileiro de muitos fabricantes internacionais justificariam a produção local em grande escala de módulos fotovoltaicos, opina Lopes. “O Brasil é o único país da América Latina com massa crítica para se tornar um hub de fabricação desses equipamentos”.
Ele reconhece, contudo, que o preço final praticado no mercado doméstico, mais alto do que o do importado, é uma das principais barreiras para reduzir a dependência das importações. Segundo Lopes, o módulo fotovoltaico nacional custa entre 20% e 30% a mais que o similar de outros países.
Outro fator crítico à nacionalização da cadeia de suprimentos da fonte solar diz respeito à qualidade dos insumos locais dos módulos fotovoltaicos que, na avaliação de João Carlos de Mello, presidente da consultoria Thymos Energia, não é boa comparado ao material que vem de fora, principalmente da China.
Na fonte eólica, o índice de nacionalização dos produtos utilizados na geração de energia oscila entre 85% e 95%, dependendo do projeto. A demanda doméstica é atendida por cinco fabricantes de aerogeradores e por diversos fornecedores de outros itens de alta tecnologia. Um dos itens importados é a caixa de engrenagem do aerogerador. Como no passado, o setor de energia dependia muito dos leilões no mercado regulado – em 2016, por exemplo, não houve certame para a venda de energia -, os fabricantes ficaram reticentes em investir na produção local de importados, explica Sandro Yamamoto, diretor técnico da Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (Abeeólica).
Mesmo com o cenário mais favorável, uma vez que os contratos no mercado livre estão impulsionando a demanda por energia eólica, Yamamoto acredita que dificilmente o índice de nacionalização da cadeia de suprimentos irá aumentar. O motivo é que os fornecedores se adaptaram à dinâmica do setor, de importar os produtos com maior valor agregado.
O volume de importações tende a seguir em alta ante o processo de expansão das fontes renováveis na matriz elétrica brasileira nos próximos anos. Tomando como referência os contratos que já foram assinados no mercado livre, a capacidade instalada da energia eólica saltará das atuais 21,8 para 36 gigawatts (GW) até 2026, segunda a Abeeólica.
Com participação de 2,6% na matriz elétrica brasileira, a energia gerada de fonte solar soma atualmente 16GW em capacidade instalada, abrangendo a geração distribuída e as grandes usinas de geração. A Absolar estima que mais 8 GW de potência serão injetados no sistema elétrico até o final do ano totalizando uma capacidade instalada de 24GW.
Com a expansão da fonte de geração solar no Brasil, a WIN tem a expectativa de crescer este ano três vezes mais que o exercício passado. Segundo Camila Nascimento, diretora da distribuidora de equipamentos fotovoltaicos, as importações no primeiro semestre superaram o montante registro entre janeiro e dezembro do ano passado.