Apesar do segmento rural ser o terceiro com maior número de conexões e potência instalada, apenas 13% da energia solar gerada no Brasil é direcionada às áreas rurais, segundo a ABSOLAR(Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica).
Isso demonstra que grandes e pequenos produtores ainda estão sofrendo prejuízo, afinal, a agricultura poderia estar se beneficiando muito dessa fonte de energia renovável.
Com a amplitude do território brasileiro, muitas fazendas e propriedades rurais ainda não possuem acesso à rede elétrica. E as que possuem gastam valores exorbitantes com a conta de luz, já que os processos de produção exigem muita energia.
Além da questão econômica, existe a preocupação ambiental. Em 14 de janeiro de 2023, aconteceu a 13ª Sessão da Assembleia da Irena (Agência Internacional de Energia Renovável).
Na ocasião, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que a energia renovável é o único caminho confiável para o mundo evitar uma catástrofe climática.
Segundo Guterres, o ideal é que 60% da eletricidade utilizada no mundo seja gerada por fontes renováveis até 2030. Hoje, estamos em apenas 30%.
Outro ponto a se considerar é que a energia solar no agronegócio é capaz de contribuir para a diminuição dos gases do efeito estufa.
Ter isso em vista pode ser um grande argumento de venda, pois o agronegócio também deve estar comprometido com a Agenda ESG.
Portanto, são diversos benefícios: menos recorrência às fontes não renováveis, menos gases poluentes e até mesmo a redução no custo dos alimentos produzidos. O produtor, o planeta e a população saem ganhando.
Hoje trago alguns dados sobre a energia solar no agronegócio, e informações úteis para que possamos contribuir cada vez mais para a transição energética deste setor.
Possibilidades de uso da energia solar no agronegócio
Não há lugar melhor para captar a luz do sol do que o campo. Nesse contexto, é possível instalar tanto sistemas on grid quanto off grid, dependendo do quão fácil é para a propriedade acessar a rede de distribuição.
Se o acesso à rede for possível, o sistema on grid será ótimo para entregar a energia excedente à concessionária e, assim, fazer a compensação de energia.
Já para as propriedades mais isoladas, a escolha ideal é o sistema off grid. Com ele, o cliente terá a autonomia necessária para armazenar a energia excedente em baterias para usá-la durante a noite ou em dias nublados.
Também vale a pena considerar um sistema off grid para estruturas específicas da propriedade, como os refrigeradores de laticínios, ainda que a instalação seja focada em on grid. Isso ajudará a garantir o abastecimento em qualquer circunstância.
Com o sistema ideal instalado, o produtor contará com muito mais conforto e economia em diversas atividades. Veja alguns exemplos:
Irrigação
A irrigação é uma das atividades que mais consomem energia em fazendas, pois precisa ser constante. Segundo a ANA (Agência Nacional de Águas), o Brasil é um dos dez países com a maior área irrigada no mundo (cerca de 8,2 milhões de hectares).
A empresa de investimentos TCP Partners prevê que o Brasil chegará em 2040 com 12,4 milhões de hectares de área de cultivo irrigada. Com isso em mente, a energia solar pode apoiar esse crescimento garantindo a sustentabilidade.
Refrigeração
Os alimentos produzidos, como carnes, leites e derivados, precisam de grandes refrigeradores para terem sua qualidade conservada. A energia solar pode contribuir para isso, além de ser útil para a regulagem de temperatura em espaços de criação de frangos, suínos e vacas leiteiras.
Cultivo, secagem e armazenamento de grãos
A luz solar nas lavouras pode ser muito bem aproveitada para o cultivo de café, feijão, milho e outros grãos. Estes produtos também precisam passar por processos de secagem e armazenamento, e o maquinário para essas atividades torna-se muito mais eficiente ao utilizar a energia solar como fonte de calor para as câmaras de secagem.
Agricultura de precisão
A tecnologia é uma divisora de águas quando o assunto é monitorar e fazer a gestão da produção no agronegócio. Fazendas que contam com torres de comunicação, internet, rádios, equipamentos, GPS e outros recursos funcionam com mais eficiência e dinamismo.
Um sistema de energia solar, em especial o off grid, é um excelente aliado para manter tudo funcionando. O mesmo vale para sistemas de segurança.
Estes são apenas alguns exemplos, mas também vale lembrar do quanto a energia solar pode contribuir para o bombeamento de água, a ventilação em aviários e currais, o funcionamento de cercas elétricas, entre outras atividades.
Incentivos fiscais para o agro
O agronegócio é responsável por 23,5% do PIB. Esse fator motivou o governo federal a lançar o projeto Pró-Sol, que prevê o incentivo do uso de matrizes energéticas renováveis.
Desde 2020, o Pró-Sol assegura que os empresários rurais aderentes à energia solar sejam isentos do pagamento obrigatório da taxa à concessionária. Graças ao projeto, estima-se que o investimento em projetos de energia solar pelos próximos cinco anos seja de R$ 10 bilhões.
Geração compartilhada
Essa modalidade de compensação energética é muito bem-vinda para o agronegócio, pois caracteriza a reunião de consumidores que recebem créditos de uma central geradora de micro ou minigeração distribuída em local diferente do consumo.
Com a Lei 14.300/22, existem novos modelos para a reunião dos consumidores, dando ainda mais opções para que a população de áreas rurais compartilhe energia.
Já existia a modalidade de cooperativa, que exige, no mínimo, 20 pessoas, com prioridade para pessoas físicas. Agora, uma novidade é o consórcio de consumidores, que permite a união de pessoas físicas além de jurídicas para um Contrato Social em que os envolvidos partilhem da energia.
Outra novidade que deve ser bastante útil para o agro, é a modalidade de condomínio civil voluntário. Este tipo de condomínio é formado quando mais de uma pessoa, física ou jurídica, compartilham a propriedade de um bem, como um terreno. Essa é uma oportunidade para que produtores rurais unam forças ao investir em uma usina fotovoltaica.
Conclusão
O mercado de energia solar tem um enorme potencial de expansão no setor agropecuário, trazendo diversos benefícios econômicos, ambientais e sociais.
Afinal, a adoção da energia solar nesse setor pode trazer novas oportunidades de trabalho e renda para as comunidades rurais, ajudando a reduzir as desigualdades sociais e promovendo o desenvolvimento sustentável como um todo.
Alcançar esse público e superar suas objeções é uma missão capaz de tornar o Brasil um líder mundial em energia limpa e renovável.
Esta matéria foi escrita por Gustavo Tegon e publicada no Canal Solar. Clique aqui e confira a notícia.